Semana santa em São João del-Rei
Procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos
Há 300 anos a religiosidade toma conta das ruas históricas de São João del-Rei, principalmente durante a Quaresma e a Semana Santa, que caracterizam essa tradição em comparação a outras cidades. Orquestras centenárias dão um brilho maior às celebrações. Os tapetes de rua, as amêndoas nas portas das igrejas, o rosmaninho, o incenso e os sinos completam a diversidade de culturas da cidade.
Nas três primeiras sextas-feiras após o Carnaval, acontecem, à meia noite, a Encomendação das Almas. Religiosos, em sua maioria pertencentes a irmandades, rezam em frente às igrejas, cemitérios e pelas ruas da cidade, pedindo o perdão dos pecados de pessoas que já faleceram.
Ainda na Quaresma, no quarto domingo, acontece a Festa do Senhor Bom Jesus dos Passos, que precede a emocionante Procissão do Encontro entre as imagens de Nossa Senhora das Dores e do Senhor Bom Jesus dos Passos., resgatando o drama do encontro entre mãe e filho. A solenidade deveria acontecer liturgicamente durante a Semana Santa. No entanto ela é celebrada separadamente em São João del-Rei.
Momento relembra o de Nossa Senhora das Dores e Senhor Bom Jesus dos Passos
A festa relembra os dolorosos passos de Jesus Cristo a caminho do Calvário. Na sexta-feira a imagem de N.S. das Dores é depositada na igreja de N.S. do Carmo, sábado a imagem de Senhor dos Passos é depositada na igreja de São Francisco, no domingo, dia maior da festa, as duas imagens saem desses respectivos pontos e se encontram de frente a igreja de N.S. das Mercês, onde é proferido Sermão do Encontro, logo depois saem juntas em procissão para a igreja de N.S.do Pilar, onde é proferido outro sermão, o do Calvário. Durante essa festa também ocorre o Combate dos sinos, disputa sadia entre os sineiros da cidade.
Sineiros dobram os sinos durante as procissões
Um dos principais diferencias da Semana Santa na cidade é, segundo o pároco da Igreja do Pilar, Padre Geraldo Magela, o Oficio de Trevas, ele destaca que só existem duas celebrações iguais a essa no mundo, em São João del-Rei e no Vaticano. No Oficio de Trevas da cidade mineira é cantado pela orquestra Ribeiro Bastos composições do Padre José Maria Xavier, compositor do século XIX.
No altar fica um castiçal em formato de triângulo com 13 velas, representando os 12 apóstolos e, ao centro, uma vela que representa Jesus Cristo. São rezados vários salmos em latim, destinados aos apóstolos. Após cada salmo rezado, a vela correspondente ao apostolo é apagada. Ao final, quando a vela que representa Jesus é apagada, a igreja toda fica no escuro e os fieis que acompanham a celebração batem os pés no chão. Assim dá por terminada a celebração e acendem-se novamente todas as luzes da igreja.
Cerimônia de Oficio de Trevas, somente existente no Vaticano e em S.J.Del-Rei- Foto da Diocese de SJDR
Na sexta–feira, os sinos da cidade, onde os “sinos falam”, se calam, em luto à morte de Jesus. À noite, acontece o “Descendimento da Cruz”, representando os momentos de Jesus no Calvário, as dores de sua mãe, Maria, e suas conversas com os ladrões, crucificados ao seu lado. A cerimônia é realizada nas escadarias da Igreja de N.S. das Mercês. Vários figurantes representam personagens bíblicos, porém as imagens dos ladrões e de Cristo são de madeira. Durante o sermão, a imagem de Jesus é retirada aos poucos e logo em seguida, em tom fúnebre, ocorre a procissão do enterro, percorrendo várias ruas da cidade até a Igreja do Pilar, onde os fiéis reverenciam o Senhor Morto.
Dentre tais celebrações existem várias outras peculiaridades, o lava-pés na quinta-feira, as cerimônias do sábado de Aleluia e domingo da Ressurreição, além das pinturas realizadas nas ruas em forma de tapetes de serragem e pigmentos. Somente vivenciando essa tradição pra sentir a emoção dos fiéis, a beleza das cores e os detalhes dessa religiosidade que resiste no tempo e se mantém na história.
Procissão de Nossa Senhora das Dores
Texto e Imagens: Thiago Morandi